"AQUASIN"

A Rússia está rejeitando bilhões de dólares!

Na última Exposição Internacional de Inventores "Eureka" em Bruxelas, em 1997, entre mais de mil invenções apresentadas por 41 países, as melhores foram as 227 da Rússia que ganharam todos os prêmios inclusive o prêmio maior.

Entretanto, em vez de receber o apoio do governo, os nossos talentosos cientistas são obrigados a tentar quebrar as silenciosas paredes da indiferença das repartições públicas quanto às suas invenções e usar micro-empresas artesanais tentando atravessar a escuridão financeira para atingir o seu objetivo...

Esta é a história típica de uma invenção que, na avaliação especializada de Igor Larionov, chefe do Centro de Pesquisas de Sistemas, poderia trazer para a Rússia um lucro de mais de 70 bilhões de dólares/ano.

Depois que o inventor do motor de combustão interna -- N. Otto, recebeu (há 100 anos atrás) a primeira patente sobre o uso da água como componente de combustível, em todo o mundo cientistas e entusiastas, racionalizadores e donos de postos de gasolina (estes últimos com um objetivo "diferente") tentam colocar esta idéia em prática. Desde então, já conseguiram alguma coisa: em muitos países estão rodando automóveis experimentais com uma mistura de água e combustível. Esta mistura, entretanto, para se manter como uma emulsão, precisa ser permanentemente mantida sob agitação com um dispendioso gerador de ultrasons. Sem o gerador, os componentes se separam rapidamente em camadas: em cima - gasolina, embaixo - água. E ponto final.

Mas, hoje estamos diante de um modelo de carro-tanque com a cisterna transparente cheia de um líquido amarelado. É o "Aquasin". Um combustível tipo emulsão, de alta octanagem, sem chumbo e que (por enquanto) contém 10% de água. Os autores desta "impossível" ligação são Eduard Isaev, doutor em ciências químicas e diretor geral da empresa NPO "Aquasin" e seus alunos Irina Egorova, Djamart Aliev e Tagetta Fedorova.

-- Isto não tem nada de "impossível" - retruca o prof. Isaev. - O segredo está no terceiro componente da mistura de água e gasolina - o emulgador, que ocupa um volume insignificante. Com a sua ajuda conseguimos criar um combustível com estabilidade ilimitada.

As indubitáveis vantagens do Aquasin sobre os combustíveis tradicionais são: baixo teor de substâncias tóxicas, ausência de compostos de chumbo e redução de poluentes nos gases de descarga: 3-5 vezes menos monóxido de carbono e 25-30% menos óxidos nitrosos. Isto significa que com este combustível alternativo poderemos deixar para os nossos descendentes uma atmosfera um pouco mais limpa. Outras qualidades do Aquasin: alta estabilidade antidetonante; redução do calor do motor em 200° C e aumento de potência resultante do aumento do grau de compressão.

Ao acrescentar o emulgador a produtos como: gasolina de baixa octanagem com água, subprodutos de petróleo, gás natural ou gás de subproduto pode-se obter substitutos equivalentes a diversos tipos de gasolina, querosene de aviação e diesel.

-- Nossas pesquisas tem dois objetivos, -- prossegue Eduard Ivanovitch, -- a criação de um novo combustível de emulsão e um motor que irá aproveitar ao máximo as vantagens da emulsão de água-combustível com teor de água de até 70%! Isto pode parecer fantasia, utopia e o que quiser, mas pelos resultados e cálculos de nossas pesquisas, o combustível dos futuros motores de combustão interna vai ser composto de água com adição de gasolina.

O caso é o seguinte: os motores atuais podem trabalhar sem quaisquer modificações com o novo combustível cujo teor de água pode ser de até 58%. Isto porque os motores a pistão tem um inconveniente básico: seu grau de expansão é igual ao grau de compressão. Por isso o combustível, depois da queima, ainda possui grande reserva de energia que o motor atual não consegue aproveitar totalmente.

Uma maneira simples de aumentar a eficiência do motor a pistão utilizando Aquasin, seria uma turbina para capturar vapores e gases instalada no sistema de exaustão. Alterando  a correlação dos componentes aquosos e de hidrocarbonetos no combustível pode-se otimizar o trabalho da máquina".

Eduard Isaev testou sua invenção também nos campos petrolíferos de Tiumen. Pelas normas atuais, um poço de petróleo é considerado completamente esgotado quando se extraiu dele, na melhor hipótese, 50% do "ouro negro". Este é um limite reconhecido em todo o mundo. O emulgador do "time de Isaev" permite extrair até 95% de petróleo de poços aparentemente sem perspectivas.

Certa vez, os especialistas da indústria petrolífera da Polônia recorreram ao Eduard Ivanovitch com a pergunta: " -- Que utilidade pode ter um condensado gasoso de baixa octanagem?". O resultado não se fez esperar. Com a receita desenvolvida pela NPO "Aquasin" e utilizando o emulgador nos gases residuais de petróleo com octanagem de apenas 38, obteve-se um excelente produto, análogo à gasolina tipo 76.

-- Os poloneses estão economizando, -- suspira prof. Isaev, -- enquanto nós continuamos queimando a toa nossos gases periféricos de petróleo com octanagem de 50. Junto a estes poços, que poluem o céu, poderíamos instalar uma indústria de Aquasin. Já no primeiro ano todas as despesas estariam pagas e o lucro multiplicar-se-ia muitas vezes.

Cálculos simples mostram o gigantesco efeito econômico que a mistura de água e gasolina provocaria. Em Moscou, o transito de automóveis queima 8 mil toneladas de gasolina por dia. A introdução  de somente 10% de água neste combustível permitiria economizar 800 toneladas - o que significa 16 vagões-tanque, um bilhão e trezentos e sessenta milhões de rublos. Ou seja, em um ano - economia de 500 bilhões de rublos.

Munido destes cálculos e idéias Isaev percorreu todas as repartições e instâncias conhecidas... Mas, parece que a Rússia não precisa de combustível barato. Nem mesmo para facilitar a vida da nossa arrasada agropecuária. Hoje, um litro de gasolina custa ao pecuarista duas vezes mais do que um litro de leite. Enquanto isto, as nossas repartições públicas tem sempre a mesma desculpa - não há dinheiro.

Atualmente, não existe no mundo "civilizado" nenhum país que não se interessasse pela invenção da NPO "Aquasin". Tentando despertar o interesse do governo da própria pátria pelo combustível alternativo Isaev viajou com o seu modelo de caminhão-tanque pela Itália, Grécia, Turquia, França, Hungria provocando o interesse do Ocidente,... Nas exposições até os japoneses ficavam com os olhos arregalados ao ver "ao vivo" a emulsão de água-combustível.

-- Naturalmente, o interesse dos estrangeiros é enorme, -- diz com tristeza o professor. - Recebemos muitas propostas de vender a tecnologia e de ficar "lá fora" para continuar os trabalhos...

-- Não acredito no patrocínio dos "novos russos", -- acrescenta desabafando Eduard Ivanovitch. - Os banqueiros atuais e ricos empresários não investem na ciência, cultura ou educação. A reserva de riquezas minerais não renováveis, a base energética e de combustíveis do país - são problemas do Estado. O empresário pode investir o dinheiro na "multiplicação" da vodka com a ajuda do emulgador, mas não vai investir um único rublo para conseguir um combustível barato para o país.

Mais cedo ou mais tarde deverá ser inventado o combustível alternativo, assim como foram inventados a máquina a vapor, telégrafo e rádio... Mas este invento é temido não somente pelos "reis dos postos de gasolina" mas por nações inteiras. É que esta invenção ameaçará todo o sistema econômico vigente, provocando a redistribuição de investimentos e mão-de-obra, o surgimento de novos ramos energéticos e a desvalorização das ações dos magnatas do petróleo...

Hoje, o laboratório de Isaev está sem energia elétrica e sem telefone, cortados por falta de pagamento. Os poderosos poderiam esconder o próprio professor para o florescimento do negócios petrolíferos nacionais. Mas o processo de nascimento do novo combustível já está em marcha. Não há como desarmar a "bomba". Isaev já está sendo caçado.

E se "raptarem" o professor? O que aconteceria? Nem é preciso ser vidente. O surgimento de um combustível alternativo no Ocidente esmagaria definitivamente a economia da Rússia pois o petróleo é praticamente o seu principal produto de exportação e o item mais importante de lucro. Como falar sobre o renascimento econômico do país quando todos os sonhos sobre a futura grandeza da Rússia podem desmoronar pela simples adição de água ao petróleo através do emulgador?

Este emulgador, mesmo que seja tão simples quanto um pedaço de sabão caseiro, somente funciona quando se conhece a sua fórmula. E tem muita gente interessada nela. Os canadenses atraíram para seu país um dos alunos de Isaev mas não conseguiram o segredo do Aquasin. Por enquanto, somente uma única pessoa conhece a fórmula...

Mas o futuro poderia ser como a seguir:

Poucos ouviram falar de Veracruz, pequena cidade portuária no México. Ela pode ser localizada no mapa e, pesquisando a literatura, saberíamos que outrora por lá badernavam conquistadores espanhóis. Esta informação é suficiente, mas para que? Por enquanto, para nada. Toda a história que poderá ser chamada de "escândalo de Veracruz" ainda vai acontecer. Por enquanto ninguém sabe nada sobre ela. Mas tudo a seu tempo.

Certo dia, chega ao porto de Veracruz um enorme navio-tanque sob uma bandeira que nem os velhos marinheiros conhecem. Verifica-se mais tarde ser o navio pertencente a um país perdido no continente africano que, até aquela data, jamais figurou em nenhuma lista de navegação. Também até este dia ninguém desconfiava que aquela "república da banana" possuía petróleo com o qual, conforme afirma o capitão, o navio estava abarrotado. Os milagres só começam e ficam mais notórios quando a tripulação do navio prepara as bombas e, após colocar para fora do navio-tanque uma infinidade de mangueiras, declara que está vendendo combustível automotivo pelo preço abaixo de água gaseificada. Tudo começa assim. Os postos de gasolina de Veracruz enchem-se com o líquido amarelado transparente que, pela qualidade não só não difere da gasolina, como até melhora o trabalho do motor dos automóveis. A notícia sobre o combustível maravilhoso espalha-se instantaneamente por todo o México. Caminhões-tanques de todo o país dirigem-se apressadamente para Veracruz, enquanto o navio-tanque parece não ter fundo: de suas entranhas continua a jorrar este estranho combustível. As autoridades portuárias se agitam: "O que estão vendendo?" A licença diz -- petróleo. Vão conferir. Realmente, nos tanques só há petróleo. Enquanto isso, chega ao porto outro navio-tanque sob a mesma bandeira e fica aguardando a vez. Mais tarde, o México é obrigado a fechar suas fronteiras devido a grande afluência de caminhões-tanque chegando de países vizinhos e provocando enormes congestionamentos nas estradas.

De repente, uma nova notícia: na Austrália caem vertiginosamente os preços de energéticos... O mundo inteiro sente a aproximação de uma tempestade. Ela estoura com a notícia da invenção de um novo combustível... As ações dos magnatas do petróleo descambam. O espectro da miséria paira sobre a Arábia Saudita e Emirados Árabes...

Fim da história...

Para a Rússia, o Aquasin seria a solução de muitos problemas financeiros, inclusive do problema de desemprego. Poderia, incluindo a exportação, trazer lucros da ordem de mais de 70 bilhões de dólares anuais para o país.

Aleksandr Rudenko

Extraído do jornal "Literaturnaia Gazeta" de 25 de junho de 1997

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