Prótese de alfabetização para imbecis? A escola atual consegue ensinar a somente um entre cada dez formados. Tanto na América, como na França, na Rússia, na... |
Pessoas com "selo de qualidade"?... Há oito anos atrás, durante uma pesquisa mundial realizada pelo Instituto Gallup em cidadãos adultos, foi descoberto um fato sensacional não divulgado até hoje. Grupos de jovens adultos, provenientes de nove dos principais países do mundo, foram solicitados a indicar num mapa mundi os mais conhecidos mares, continentes, cidades e países (inclusive os seus próprios), totalizando 16 itens. Tudo muito simples. Entretanto, os resultados apresentaram uma estranha e fatal uniformidade. Somente um de cada dez japoneses, ingleses, franceses, russos, americanos, alemães, etc. passou honrosamente no teste, conseguindo localizar no mapa os itens pedidos. O resto dos entrevistados sofreu um estrondoso fiasco. Só conseguiram demostrar que sabem, em princípio, estabelecer uma relação entre o país real e a sua imagem, lendo o nome no mapa. A pesquisa sem precedentes, com um custo de muito milhares de dólares, trouxe uma surpresa para a qual os cientistas não estavam preparados. O mandante da pesquisa foi a Sociedade Nacional Geográfica dos EUA. Ela esperava obter uma safra suficientemente rica de estatísticas, para comparar os indicadores de cada país e tirar as respectivas conclusões práticas. E, de repente - todos os países apresentaram o mesmo grau de ignorância. Para não preocupar a sociedade mundial, este importante fato não foi divulgado. A imprensa apresentou números que refletiam curiosos detalhes ou coincidências. Escreveram, por exemplo, que muitos franceses não encontraram o Afeganistão e muitos americanos não conseguiram achar o seu próprio país, etc. Mas, o quadro geral de todos os países não foi publicado. Nem é preciso dizer que, ao comentar os resultados dessa experiência, os analistas de cada área limitaram-se a palavras de ordem geral e recomendações do tipo: "devemos ensinar as crianças a manusear mapas desde a tenra idade", "precisamos despertar o interesse pelas descobertas geográficas", "é necessário inculcar o gosto pela criatividade", "deveria-se treinar a memória", etc. Em outras palavras, os cientistas repetiam a velha "resposta certa" à maneira dos alunos, sem tentar encontrar explicações próprias e nada simples para esta ameaçadora estatística. Ninguém, inclusive os próprios organizadores da pesquisa, conseguiu responder a (aparentemente simples) pergunta: o que isso significa? Todas as explicações levavam a becos sem saída. Por mais que se negue, a pesquisa demonstrava que alguns de nós (cerca de 10% da população) são notoriamente mais inteligentes que a maioria. Então, veio a descoberta. Comprovou-se cientificamente a inconsistência da versão sobre a "superioridade" da minoria sobre a maioria. O cientista e pedagogo russo Miloslav Balaban conseguiu desatar um dos nós mais complicados da ciência atual sobre o ser humano. Para estabelecer a sua hipótese, M. Balaban, ao contrário dos outros, eliminou de vez todas as respostas conhecidas, esforçando-se para que fossem devidamente "esquecidas". Como se sabe, este é o primeiro e o mais difícil passo em qualquer descoberta. Em seguida, o cientista, estranhamente chamou a atenção para o resultado positivo da experiência: quase 90% dos adultos pesquisados conseguiu encontrar e ler no mapa o nome de pelo menos um país. Isto prova que 90% das pessoas diplomadas sabem ler. Maravilhoso! "Consequentemente, o resultado da experiência não foi tão ruim como pode parecer, pois a alfabetização em massa é uma das maiores conquistas da civilização atual" -- concluiu o cientista. Mas, aparentemente, somente 10% dos adultos conseguiu aplicar na prática a sua capacidade de ler (o atlas) nos testes propostos. Conclui-se assim que a mãe-natureza concedeu a somente um punhado de "mais inteligentes" a facilidade e o talento de usar o conhecimento existente nos livros, assimilá-lo e aplica-lo. E os outros? Não são capazes de entender nem o "be-a-ba" elementar? Ridículo. É claro que são capazes. Mas, provavelmente, por um caminho mais natural para eles - não através do texto, nem através da memória (que, como se sabe, protege o cérebro da informação desnecessária através do "esquecimento") mas, de alguma outra maneira. -- Aliás, o fato da maioria de nós, sair inocentemente da escola sem ter assimilado a instrução, é percebido bem no fundo da nossa consciência, -- diz M. Balaban. - Mas que assim seja. Isso ainda dá pra engolir. O que me surpreende são os resultados idênticos! Tanto na América, onde gasta-se até 10 mil dólares/ano para cada aluno, quanto nos países de baixíssima renda como o nosso (que financia a escola pelo princípio de sobras). Este deve ser o fato que motivou a ciência oficial não divulgar os resultados para uma ampla discussão pública. Estes dados são incríveis e obrigam a duvidar de algo que, em princípio, ninguém se permite duvidar. Contudo, devemos lembrar que já em 1860 foi realizada uma pesquisa idêntica por... Lev Nikolaievitch Tolstoi. Ele a fez através de conversas que manteve com alunos das escolas da Alemanha, Suiça e França. O tema era sempre geografia. A questão típica era dizer e indicar no mapa "a cidade principal da Prússia ou Bavária". Conclusão: "9/10 da população estudantil sai da escola somente com o conhecimento mecânico de juntar letras e formar palavras". Tolstoi estava pasmo e não entendia como alunos, com seis anos de estudos, "não conseguiam escrever palavras sem erros". Desde aquela época a escola equipou-se com métodos eficientes, tecnologia maravilhosa e novíssimos padrões, ficou muito mais democrática, cresceu no espaço (colégio, faculdade, pós-graduação) e no tempo. O mais incrível é que depois de tudo isso, o resultado permanece o mesmo e chocante. Aliás, os americanos (que nunca deixam as coisas para mais tarde) avaliaram a produtividade das escolas em outras disciplinas e encontraram o mesmo resultado fatídico. Dez por cento sabem calcular a "área do círculo". Os outros, decoraram e esqueceram...
As crianças "escolhem"... com as pernas! -- Na sua obra "Escola-parque" o Sr. preconiza os valores de mercado na educação. Mas, isso tira a possibilidade de desenvolvimento normal até daqueles dez por cento de "pessoas mais afinadas" que, de acordo com os dados do Instituto Gallup, carregam este planeta nos ombros... -- Não é bem assim. A reforma pela qual estou lutando, não pressupõe de nenhuma maneira a substituição do ensino "através da escrita" por algo diferente. Simplesmente estou propondo complementar o método de ensino existente com outros métodos, mais vivos e naturais para a maioria das crianças. Como vemos atualmente, a escola consegue passar conhecimentos sobre o mundo que nos cerca para somente 10% dos alunos. E por que? O que acontece? Eis a minha versão. Provavelmente, é necessário (mantendo tudo o que já temos) oferecer aos alunos um mercado de serviços educativos, que seria dez vezes mais rico que o atual. Não pela quantidade de disciplinas, cursos, faculdades, ou algo semelhante, mas pela quantidade de acessos ao conhecimento e métodos de sua obtenção. Como será isso, deixemos que as próprias crianças nos mostrem. Não com palavras, mas... com as pernas. Este é o truque. Se nós fizermos salas de aula abertas para eles (como lojas abertas ao público; lojas fechadas - são distribuidores fechados) creio que a eficiência da escola crescerá radicalmente e a alfabetização será somente um dos meios de troca de informações, relacionamento e educação. Nós tivemos sorte. Finalmente estas idéias subversivas estão se tornando realidade (bato na madeira para evitar mau-olhado) na famosa "Escola de autodeterminação" de Aleksandr Tubelhsky em Moscou. Lá, já está funcionando o "espaço livre" nas quintas séries sob a direção da bióloga Olga Leóntievna. Sou grato ao Tubelhsky. Ele planejava isto há muito tempo e já realizou nove décimos do trabalho sem o qual a nossa experiência seria inviável: extinguiu as notas de avaliação em todas as classes (exceto as de exames finais), agrupou as disciplinas básicas na forma de "ambientes de épocas histórico-culturais", encarregou-se dos pais dos alunos que, no início, tentaram resistir: "Como assim -- aprender livremente? Deve-se obrigar!". Ou seja, ele praticamente quebrou a espinha dorsal da "escola de salas-aulas" e isto, devo acrescentar, não é nada fácil... O que perdemos com isso? O estudo dos dados do Instituto Gallup mostra que a fina camada dos "tecno-alunos" (alunos funcionalmente instruídos) compõe-se de crianças cujo intelecto desenvolve-se normalmente em qualquer ambiente de ensino, por mais extravagante que este seja. No mundo dos cálculos e das mais diversas matérias técnicas estes dez por cento sentem-se em casa. É o seu ambiente natural. E eles irão encontrá-lo também nesta nova escola. -- Mas, será que vão encontrar? O senhor tem certeza? -- Tenho! Veja. Os livros não vão ser retirados da escola (e nem de nossas vidas) pois isto seria uma asneira. Os livros, simplesmente, terão que compartilhar o seu lugar: o texto não será mais a dominante, o objetivo e o método de qualquer aula, nem a medida pela qual se determina o nível de desenvolvimento da criança. O centro de formação vai se deslocar em outras direções bem menos formais (pós-industriais) da experiência humana: confecção de sapatos, arte culinária, medicina, pedagogia... E o texto servirá somente como sistema de consulta, como deveria ser normalmente. A virtude do texto é que sempre se pode recorrer a ele e extrair o necessário. Ele não estraga e não esquece o que nele for guardado. Já a nossa memória usa o esquecimento para a autoconservação: tudo o que não coincide com a sua visão do mundo deve ser esquecido rapidamente, resultando na "memória curta". Por exemplo: o fato do sal de cozinha ser formado de um gás e um metal em nada muda a minha impressão sobre essa substância - eu continuo a ingeri-lo! Mas um conhecimento vivo é como parte do seu destino -- nunca é esquecido. Portanto, não devemos nos preocupar com a fina camada da elite. Atualmente, na escola do Tubelhsky, 60% dos alunos vão às tradicionais aulas de matemática, física, literatura, etc. Só que, na prática, eles não estão indo à "aula de matemática", mas para a sala do professor X. E não vão simplesmente à "aula de literatura" mas à aula da professora Y, sem passar por outras matérias. Concordo que é um método severo. Mas estas são as condições da experiência!
O texto é a medida de todas as coisas? -- O senhor fala de conhecimentos vivos e livres. Mas nas escolas do mundo inteiro e na consciência social esta instalada uma estrutura completamente diferente de que só existem conhecimentos objetivos! Cito: "autênticos, científicos e correspondentes à realidade...". -- Isto é mais um mito. Todos nós fizemos curso de filosofia e, graças a Deus, lembramos que: não existe o conhecimento absoluto. As novas descobertas da ciência transformam constantemente as antigas verdades em verdades parciais. Todos vêem isto, mas... não enxergam. E por que? Penso que o culto do "conhecimento objetivo" está fortemente atado à idéia do texto como seu depositário. Entretanto, o que se pode fazer se ele é acessível a somente um de cada dez alunos? Todos os outros devem receber, essencialmente, os mesmos conhecimentos, não somente através da palavra escrita, mas usando-se as mãos, pernas, olhos e fazendo alguma coisa. Acontece que, de acordo com a tabela de valores existente, este know-how é considerado inferior, e seu lugar é fora da escola, ao lado das fofocas, bate-papos nas horas de lazer e mais não sei o que... Quando aprendemos algo desta maneira, ainda nos amolam com: "Onde você leu isto? Quem lhe falou isto? Olhem só, o espertalhão!" Mas vamos encontrar uma saída. Pois até as pessoas que antes se inclinavam diante do sucesso do "controle de natalidade", começam agora a perceber que a direção não é esta!... Foi constatado que podemos destruir (e continuamos a destruir) a Natureza mesmo com o decréscimo da população. Observe que na Índia as pessoas vivem amontoadas, mas conservam a Natureza. Talvez pelo fato deles simplesmente ainda não possuírem a rígidez dominante da "alfabetização"? As religiões que eles professam tem uma escala de valores diferente - o culto da tradição oral, da espiritualidade e do auto-aperfeiçoamento. Mas, se nós nos esforçarmos, também poderemos mudar tudo por lá. Vai ser como na África, onde povos com história milenar reagiram ao surgimento das "escolas com salas de aula" provocando uma explosão social, desemprego em massa e uma onda de criminalidade. Ninguém imagina que foi a escola a culpada por essas desgraças. Não a "escola" mas o "sistema de salas/aulas" que toca o sino e diz: "--Venha! E se não vier você não será dos nossos e nem será considerado uma pessoa...!". Há pouco tempo atrás, num congresso internacional de educação na Rússia, foi citado que 75% dos habitantes da região de Kursk (na faixa etária entre 40 e 80 anos) não sabem ler e negam-se a escrever. E 15% deles confessam: estão felizes... No Ocidente as estatísticas, são naturalmente mais ricas. Revelou-se que um em cada cinco ingleses "não entende" o mapa do metrô, evita usar as listas de horários dos trens e guias de ruas. Além disso, fiquei surpreso ao saber que as "instruções ilustradas" - um tipo de revista em quadrinhos, que acompanham muitas mercadorias, tornaram-se uma nova forma de leitura para os que sabem ler, mas não entendem o teor do texto lido, a ponto de invertê-lo. Mas por que? Estas pessoas concluíram a escola... E (voltando à sua pergunta), não são capazes de utilizar a própria mente, nem seus conhecimentos de leitura-escrita - correto? É por isso que não me canso de repetir: não se deveria permitir nem por um mais um dia a educação-padrão. A violência na tenra idade é contra-indicada ao intelecto. -- Existe uma canção que diz: "Mais cedo ou mais tarde não haverá mais imbecis...". O senhor acha que eles (exceto os casos clínicos) já não existem mais. Então por que tanta imbecilidade por todo lugar? -- É porque nós tentamos fazer todos passarem pela "prótese geral de alfabetização". Como resultado, colocamos no mundo pessoas que são "imbecis" somente no principal - na capacidade de encontrar a si próprios. De encontrar aquele lugar onde elas serão mais importantes para este mundo. Encontrar o lugar e edificá-lo. Qual o curso que ensina o que você deve saber para ter sucesso no mercado com sua própria mercadoria ou seus próprios serviços? Nestes casos, cada um precisa ter a experiência - como dizia o poeta - "o filho dos erros difíceis". Um dia percebi que a "escola de alfabetização" de Komensky (já com mais de trezentos anos) trouxe consigo também o primeiro modelo de industrialização viva. Os alunos - como se fossem trabalhadores, cumprem rigidamente o programa ordenado pelo chefe-professor: "Bom dia! Vamos escrever traços!" E começa a anulação do nosso próprio "eu". Que "traços" e para que - não importa! As crianças acostumam-se a cumprir exatamente as ordens de outros, sem pensar no significado do que estão fazendo. -- Nas suas obras o senhor ataca Komensky de todas as maneiras. Entretanto, ele trouxe o método mais barato de ensino de escrita e cálculo praticamente para todos. O segredo do sucesso dessa escola é a sua economia. Foi por isso que ela vingou, disseminando-se rapidamente por toda a Europa... -- ...E como resultado, gerou a economia do trabalho arrendado - a civilização industrial dos rigorosos "Texto e Teste". Para esta civilização é muito importante a capacidade de submeter a própria razão à vontade alheia, considerando esta vontade como objetiva, superior, etc., e também como conhecimento objetivo. Mas voltemos mentalmente para trezentos anos atrás. Imagine um artesão livre, que ao criar o seu vasilhame, era ao mesmo tempo seu próprio pintor, projetista, fabricante, vendedor e chefe. Um dia levam este artesão a um torno e dizem: "Você vai apertar este parafuso e colocá-lo na esteira - e o que vai acontecer depois já não é seu problema". Conseguiria ele simplesmente sentar e executar o trabalho? Não creio. Antes disso ele deveria ser castrado intelectualmente. Deveria-se retirar dele o espírito de dono do próprio destino e de livre empreendedor. Este problema é brilhantemente resolvido pela escola de Kamensky já há centenas de anos. E enquanto se fala de "criatividade", "mobilidade profissional", "educação por toda a vida" e tudo o mais, esta escola continua a preparar pessoas, que só sabem agir por ordens vindas de cima. É engraçado, mas até a livre iniciativa é ensinada através de manuais, com lições de casa e notas de avaliação! Eis porque a maioria de nós só sabe receber tudo pronto (dos livros escolares) e até hoje acredita que economia - é quando você está "se apropriando de algo". Entretanto a economia, de modo geral, é quando você "se entrega"... Além disso, não estou absolutamente convencido de que, após estes trezentos anos, a sociedade ainda precisa de tantos "melhores alunos em textos". Pode ser que os 10% (chamemo-los de "alfabetóides") revelados pelo Instituto Gallup estão ocupando no mundo atual lugares que não lhes pertencem?
Recebe aquele, quem dá! -- Eu gostaria de voltar à questão: dar ou receber. O senhor diz que nos temos uma compreensão deformada da economia: hoje roubar é prestigiado, enquanto pagar imposto, pelo contrário... Mas o que poderia fazer a escola? Em que poderia ajudar? É claro que seria bom ensinar o aluno a "compartilhar" as suas qualidades intelectuais pessoais. Mas nós, por enquanto, nem sabemos se ele as possui... -- O senhor tem razão. Existe um mito enraizado de que as cabeças das crianças estão cheias de besteira. Trazem este lixo para as salas de aula, juntam tudo num monte - e o que o professor deve fazer com isso? Perceba que o ser humano se interessa pelo lugar onde ele próprio é "interessante", onde ele é necessário às pessoas. Nos estúdios abertos da "escola-parque" nós criamos ambientes de trabalho para os alunos da quinta série que vagam livremente pelas salas da escola. Numa sala tem um microscópio, no outro -- uma enciclopédia rara, mais adiante -- um circuito elétrico. Escolha o que lhe agradar. Procure, cometa seus próprios erros (observe que sempre tem um manual por perto)! Mais tarde, na reunião geral (com as cadeiras postas em círculo) será necessário partilhar a sua experiência com os amigos, fazer a apresentação do seu trabalho. O ouvinte recebe do relator. Deste modo, a escola ensina a pensar. E o que acontece na realidade? Recebe aquele, quem dá! "O que guardou, desapareceu para sempre. O que entregou, ficou seu para sempre". Os psicólogos afirmam que a maioria dos assassinos se impõem à futura vítima - e estabelece-se o conflito. Note que até o criminoso quer ser ouvido, valorizado, entendido. Isto não é um pesadelo nem piada. É o desvendamento do sentido da existência humana. Os maiores filósofos escreveram sobre isso. Boris Pasternak escreve o seguinte: "A vida também é só um instante. É somente a diluição de nós mesmos em todos os outros, dando-se de presente". A escola, entretanto, distorce este princípio de modo a fazer parecer que primeiro deve-se receber algo no sentido intelectual e espiritual e somente daqui a uns dez anos entregar este algo e jamais neste local. -- Isso tudo está correto, mas o senhor sugere preparar os alunos desde o primeiro ano para serem fazendeiros, banqueiros, padeiros. É compreensível que o senhor seja contra os "rituais hipócritas" escolares. Mas estes rituais tem a sua poesia, o ritmo, o passo grandioso, o primeiro contato com as eternas verdades. E, também, a possibilidade de simplesmente sonhar. Como dizia o clássico: "E eu me deleitava com o pensamento ocioso..." -- Este ritual é uma forma de coação, violência e prepara masoquistas que recebem um afago, enquanto o seu destino é triunfalmente quebrado. Que bela poesia! Note que na obra de Puchkin (maior poeta russo) as palavras "instrução" e "tirano"- são sinônimos... "Onde existir uma gota de prazer, lá estarão de guarda a instrução ou o tirano...", "Eis o que é instrução - ela "esvazia o mundo"...". A propósito, Puchkin define isso claramente, louvando não a "escola" mas o "espírito", ou seja, não o texto mas a experiência, neste trecho: "Oh, quantas descobertas maravilhosas / nos prepara o espírito da instrução / a experiência, filha de (seus! - M.B.) erros difíceis, / e o gênio, amigo dos paradoxos." O senhor me pergunta o que significa experiência viva. É qualquer uma das nossas atitudes independentes. Somente as atitudes desenvolvem. Somente pelas atitudes é medido o intelecto e toda a vida humana enfim. -- Miloslav Aleksandrovitch, e qual é o resultado prático? Somente alguns "estúdios-parques" numa escola de elite da capital? O senhor insiste em afirmar que os dias da escola de classes estão contados... -- Se o Sr. permitir, responderei com a seguinte história. Certa vez, algumas crianças do nosso bio-estúdio acharam na rua um filhote de pássaro. Obviamente, chegaram à conclusão de que ele caiu do ninho. Este é um exemplo de raciocínio padrão. É claro que para as crianças seria difícil imaginar que o filhote pode ter crescido, o ninho ficado apertado e ele ter decidido sair sozinho do ninho. Voltando à sua pergunta: por que todos estão convencido que a escola viverá para sempre no ninho, na dependência dos pais? Acredito que já está na hora de abrir as asas. Acabou a infância - a escola deve voar por conta própria! Anton Zverev Extraído do jornal "Literaturnaia Gazeta" de 10 de junho de 1997 --------------------------------------------------------------- |